CARTA ABERTA dos/das docentes da Escola de Aplicação da EAUFPA às famílias e discentes

CARTA ABERTA dos/das docentes da Escola de Aplicação da EAUFPA às famílias e discentes

Prezados/as,

 

Desde que a Pandemia de Covid-19 se instalou no mundo, todas e todos sofremos com seus impactos, com perdas – de familiares, amigos, colegas de trabalho, estudantes – adoecimentos, medos e incertezas. Quando, em todo o mundo, as atividades escolares presenciais foram suspensas, ninguém imaginava que viveríamos uma crise sanitária de longa duração e sem precedentes e que levaria à morte milhões de pessoas, em todos os continentes.

 

O empenho da ciência alimentou nossa esperança e as vacinas finalmente chegaram, reduzindo-se significativamente as taxas de mortalidade em decorrência da doença, ainda que nossas crianças não tenham sido vacinadas. A conscientização, com a higienização e o uso de máscaras, nos mostrou o quanto medidas relativamente simples podem ajudar a salvar vidas. Contudo, é importante destacar que a pandemia ainda não acabou. Sabemos que, talvez, muitos outros desdobramentos desta pandemia ainda nem começaram a se manifestar. É pertinente destacar que, embora uma parcela de nossos/as estudantes tenha conseguido “acompanhar” o Ensino Remoto, tal alternativa apresentada para reduzir os prejuízos acadêmicos, ainda é uma modalidade de ensino que não atende ao conjunto dos/as discentes, principalmente àqueles/as integrantes de famílias de baixa renda, que sequer têm garantias de segurança alimentar, tampouco os recursos necessários para o desenvolvimento adequado das atividades de forma remota.

 

Mesmo assim, atendendo à legislação e em cumprimento às decisões da UFPA em seus Conselhos Superiores, assumimos o compromisso de buscar saídas: realizamos levantamentos sobre a situação dos/das discentes e suas famílias, construímos alternativas que respeitassem as especificidades de cada nível, etapa e modalidade de ensino, realizando lives, encontros online, elaborando cadernos de atividades, atendendo familiares e alunos (inclusive fora do horário de trabalho). Seguimos, ao mesmo tempo, desenvolvendo pesquisas e projetos, participando de reuniões administrativas, formando comissões (para ajudar na reorganização curricular, de calendário, das ações pedagógicas e na elaboração de um Protocolo de Retorno) e buscando meios para garantir o desenvolvimento das atividades remotas.

 

Assim como para nossos/as alunos/as, a escola veio para dentro de nossas casas, sem apoio e sem suporte. Do mesmo modo, todos/as reconhecem as insuficiências do Ensino Remoto, e mesmo com todo nosso empenho e cuidado, no final de tudo, o esforço em efetivá-lo pouco está sendo reconhecido. Um dos ensinamentos dessa pandemia, e que vinha sendo negado por muitos antes e após entrarmos nesse contexto de emergência sanitária é que nada substitui a Escola e as relações sociais e afetivas que ela promove, e afirmamos que o desejo do retorno presencial é de todos/as nós, mas, como professores/as e pesquisadores/as, não podemos concordar com um retorno abrupto, sem planejamento e estrutura. Assim,

  • É importante ressaltar que desde o mês de setembro as coordenações dos níveis deensino estão planejando o retorno presencial, que é impedido de ser retomado por pelo menos quatro razões: a) um grande número de discentes ainda não vacinados; b) problemas com estrutura física de salas e outros espaços coletivos (vide anexos); c) redução no número de servidores e bolsistas e; d) Ausência de cuidadores. Tais fatores corroboram significativamente para a não qualidade da aprendizagem dos discentes.

 

  • Diferentemente do que se assevera em poucas falas, nossa escola não possui condições de infraestrutura para retornar neste momento. Alguns espaços estão em obras – como as salas do Ens. Fundamental I, do Complexo Artístico e do Laboratório de Informática – e se encontram atualmente sem nenhuma condição de uso, banheiros sem água e outros sem funcionamento. O refeitório da escola também encontra-se em reforma. Estas afirmações podem ser facilmente constatadas numa simples visita detalhada à escola (e nos anexos que acompanham esta Carta).

 

  • Quanto aos recursos humanos, houve redução de pessoal, sobretudo na área de limpeza e da cozinha. Perdemos colegas de trabalho e ainda não houve reposição do quadro. Não temos cuidadores/as para acompanhar as atividades de Coordenação Inclusiva e nem bolsistas em número suficiente. Embora os memorandos e as solicitações já tenham sido encaminhados, com as necessidades levantadas para que as atividades presenciais possam retornar de forma segura, esses ainda não foram atendidos, em um contexto agravado pelos profundos e sucessivos cortes impostos, pelo Governo Federal, aos orçamentos das universidades federais.

 

  • A despeito de todo esse cenário, existem alguns projetos de Pesquisa e Extensão que atualmente estão em execução de forma presencial na escola, com estudantes do Ensino Médio e Ensino Fundamental II, mas que, nem de longe, suas atividades poderiam ser tomadas como parâmetro de comparação às demandas que o retorno presencial de todas as atividades letivas imporiam ao funcionamento da escola: o número de alunos aglomerados, o tempo de permanência em sala de aula, a necessidade de funcionamento pleno e higienização constante dos banheiros e outros espaços, o funcionamento da área de alimentação, entre outras necessidades básicas.

 

  • Salientamos ainda que, entre os dias 16 e 18 de novembro foi criada uma Comissão para averiguar as possibilidades reais de retorno presencial (a qual sem dúvida precisa ser ampliada, para que se garanta a representatividade de toda a Escola). Ao final de dois dias de debates, tal Comissão apresentou um parecer desfavorável ao retorno das atividades presenciais no 4º bimestre do corrente ano letivo, propondo-se a continuidade dos trabalhos para a elaboração de um plano de retorno seguro para 2022.

 

Diante do exposto, manifestamos nossa solidariedade a nossos/as alunos/as e familiares, pelo amplo desejo de retorno presencial à escola, mas expressamos também nossa tristeza em saber que algumas iniciativas não constroem um diálogo saudável com ofensas, ameaças e acusações injustas, pois não deixamos de trabalhar um só dia desde que as aulas presenciais foram paralisadas. Investimos diuturnamente na busca por meios para o desenvolvimento de nosso trabalho, participando de editais, por exemplo, diante de um cenário de fortes ataques à educação pública e corte de recursos; buscando aprimoramento para o uso das tecnologias digitais de que dispunhamos; inclusive, adquirindo, com nossos próprios recursos, ferramentas que nos auxiliassem na tentativa de manter a aprendizagem de nossos alunos e alunas.

 

Por fim, reiteramos a necessidade de uma relação cordial entre todos os segmentos desta Escola, respeitando os espaços de deliberação e as decisões colegiadas. Nós, docentes, também tivemos dificuldades em retomar nossa organização e participação no Conselho Escolar, mas o empenho coletivo nos permitiu ter melhores condições de discutir nossas pautas coletivamente e tomar decisões conjuntas.

 

Nosso desafio agora é contribuir para a construção de um Protocolo de Retorno às Atividades Escolares Presenciais em Condições Seguras para o ano de 2022, que já está bem próximo, como tarefa coletiva e de responsabilidade de todos/as. Que em breve possamos voltar a nos encontrar presencialmente, com a cobertura vacinal completa, garantidas as condições de biossegurança e defendendo a vida, como prioridade!

 

Belém/PA, 25 de novembro de 2021

 

Encaminhamento aprovado em Assembleia Geral Docente da EAUFPA (em 22/11/2021)

 

Leia na íntegra

 

CARTA ABERTA DOS_DAS DOCENTES DA ESCOLA DE APLICAÇÃO DA EAUFPA ÀS FAMÍLIAS E DISCENTES

 

 

 

 

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