
III Seminário Intercultural ANDES-SN: “Se um dia eles combinaram de nos matar. Nós estamos aqui para mostrar que não vamos morrer”
É com esse espírito de resistência que foram abertos, na manhã desta sexta feira, os trabalhos do III Seminário Intercultural do ANDES-SN. Para falar sobre uma transição de matrizes energéticas justas e que não acabem com a vida das pessoas que vivem na Amazônia, foram abordadas questões relacionadas ao racismo estrutural, a mineração, a luta contra os projetos desenvolvimentistas, a articulação política, o agronegócio e os recursos naturais.
Durante a mesa de abertura, a segunda vice-presidenta do ANDES-SN, Zuleide Queiroz, lembrou os 700 mil mortos durante a pandemia, resultado da negligência do governo do Bolsonaro e que a retomada da democracia deve estar alinhada à interculturalidade, na promoção de políticas e práticas que estimulem a interação, a compreensão e o respeito entre as diferentes culturas e grupos étnicos.
A diretora geral da ADUFPA, Edivania Alves, saudou os participantes, fazendo referência ao Dia Internacional da Visibilidade Transgênero, celebrado hoje e lembrou também da luta em defesa do território palestino, que se entrelaça a luta dos povos originários da Amazônia. “Belém do Pará é a janela de entrada para as Amazônias. Estamos aqui para bater nossos tambores, sacudir nossos maracas, dizendo sempre que eles não passarão e nós passarinho”.
O professor José Domingues (UFMT), deu início ao debate sobre “A transição socialista das matrizes energéticas e tecnologia”, trazendo um histórico de luta e resistência dos movimentos sociais, universidade e ambientalistas, ainda na década de 80, fator determinante para impedir a instalação de hidrelétricas na Amazônia, movimento que foi perdendo força a partir de 2003 com a articulação política, intermediada pelas ONG’s, favorecida pelo recuo das universidades públicas e avanço da exploração mineral no solo amazônico.
A bióloga Cecília Feitoza da Articulação Antinuclear do Ceará, ressaltou que alguns indicadores importantes, entre eles, o antropoceno, a deflorestação e alterações no uso do solo, o surgimento de epidemias e a diminuição da diversidade biológica, são responsáveis pelas mudanças climáticas e, consequentemente, os eventos extremos são observados em todo o mundo, a exemplo das enchentes no Acre, os tornados nos Estados Unidos e as secas na França. A especialista trouxe ao debate uma crítica embasada pela experiência dos projetos de energia eólica no Ceará.
Charles Trocate, do Movimento Pela Soberania Popular na Mineração (MAM) observa que o modelo minerador instalado no país pelas grandes mineradoras é primário, exportador, de um capitalismo dependente e absolutamente voltado para os interesses de fora do Brasil, que mantém uma rolagem perpétua do capital.
“O racismo ambiental e as lutas antimachistas e antilgbtfóbicas no campo e na cidade” foi o tema da segunda mesa de discussões. A professora Zélia Amador, coordenadora da ADIS, afirmou que o racismo ambiental acompanha a vida das pessoas negras, num processo de limpeza étnica. Na mesma mesa, a ativista LGBTQIA+ Emilly Cassandra (GRETA) trouxe ao debate, a violência contra travestis e transexuais e denunciou que no campo a prática é invisibilizada. Para embasar as ocorrências de violência que ocorrem nas cidades, a ativista citou um caso de um estudante da UFPA, agredido dentro do campus e violentado pelos policiais que atenderam a denuncia.
Finalizando o debate desta sexta-feira a mesa “O direito a vida, democracia e desenvolvimento socioambiental”, trouxe a resistência dos povos tradicionais e formas de organização dessa luta.
A programação do III Seminário Intercultural do ANDES-SN continua neste sábado, 1° de abril, no Assentamento Agroecológico do MST “Mártires de Abril”, em Mosqueiro.